sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sobre a semântica formal, por Ana Müller e Evani Viotti

PDF disponível no seguinte endereço: http://www.fflch.usp.br/dl/anamuller/pdf/livro%20Elementos%202003.pdf

segunda-feira, 23 de julho de 2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Sobre o Google Drive



'Seus pobrema se acabarão-se'

Pois é. Essa não é uma postagem sobre semântica, linguística ou sobre texto. Contudo, acho que vale a pena compartilhar a descoberta aqui no blog. Muitas vezes, quando vou procurar um documento nos meus computadores fico agoniado de ver tanta coisa que tenho e provavelmente não vou precisar, mas fico com aquela sensação de que apagar os documentos, slides, fotos e tudo mais não é a melhor opção. Daí eu penso: "eu posso guardar num DVD!" Gravo os arquivos, meus trabalhos e produções da faculdade, minhas fotos antigas e, voilá, perco o DVD.
Um disco rígido externo de 320GB custa em média, hoje, R$ 200,00, dinheiro que eu poderia investir em algo que eu realmente use com frequência. Daí, navegando na Internet, descubro que o Google desenvolveu uma ferramenta para armazenar aqueles arquivos vegetais do seu computador. É uma grande vantagem.
A conta do Google Drive, que é uma ferramenta de armazenamento na internet, oferece, gratuitamente, 5GB para o usuário colocar qualquer coisa (desde que não seja nenhum software pirata, filmes ou músicas sob copyright). É uma boa.
Sabe o que é melhor? Seus arquivos ficam protegidos na net, ninguém pode ter acesso ao seu conteúdo e você ainda pode compartilhar arquivos ou pastas inteiras com grupos ou contatos específicos. Abri uma pasta de Semântica e vou compartilhar com mais 3 pessoas.
Quem não tem ainda, recomendo fazer uma conta. Quem já tem o Gmail (ou conta no google), já tem acesso e basta fazer o login. Você pode até perder um DVD por aí, mas o seu Google Drive estará sempre lá disponível e fácil de achar.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Como estruturar um texto argumentativo

conheça as tendências de textos argumentativos e a estruturação mais utilizada nos chamados 'textos dissertativos'. Saiba a diferença entre argumento, estratégia e tese nesse texto do site da PUC-RS.

Autor desconhecido, extraído de http://www.pucrs.br/gpt/argumentativo.php


Como Estruturar um Texto Argumentativo

1. O texto argumentativo

     COMUNICAR não significa apenas enviar uma mensagem e fazer com que nosso ouvinte/leitor a receba e a compreenda. Dito de uma forma melhor, podemos dizer que nós nos valemos da linguagem não apenas para transmitir idéias, informações. São muito freqüentes as vezes em que tomamos a palavra para fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite o que estamos expressando (e não apenas compreenda); que creia ou faça o que está sendo dito ou proposto.

     Comunicar não é, pois, apenas um fazer saber, mas também um fazer crer, um fazer fazer. Nesse sentido, a língua não é apenas um instrumento de comunicação; ela é também um instrumento de ação sobre os espíritos, isto é, uma estratégia que visa a convencer, a persuadir, a aceitar, a fazer crer, a mudar de opinião, a levar a uma determinada ação.

     Assim sendo, talvez não se caracterizaria em exagero afirmarmos que falar e escrever é argumentar.

     TEXTO ARGUMENTATIVO é o texto em que defendemos uma idéia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela.

     Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.

     TESE, ou proposição, é a idéia que defendemos, necessariamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opinião.

     A palavra ARGUMENTO tem uma origem curiosa: vem do latim ARGUMENTUM, que tem o tema ARGU , cujo sentido primeiro é "fazer brilhar", "iluminar", a mesma raiz de "argênteo", "argúcia", "arguto".

     Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o autor é contra a pena de morte (tese). Porque ... (argumentos).

     As ESTRATÉGIAS não se confundem com os ARGUMENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta por quê (o autor defende uma tese tal PORQUE ... - e aí vêm os argumentos).

     ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos (verbais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc.

     Os exemplos a seguir poderão dar melhor idéia acerca do que estamos falando.

     A CLAREZA do texto - para citar um primeiro exemplo - é uma estratégia argumentativa na medida em que, em sendo claro, o leitor/ouvinte poderá entender, e entendo, poderá concordar com o que está sendo exposto. Portanto, para conquistar o leitor/ouvinte, quem fala ou escreve vai procurar por todos os meios ser claro, isto é, utilizar-se da ESTRATÉGIA da clareza. A CLAREZA não é, pois, um argumento, mas é um meio (estratégia) imprescindível, para obter adesão das mentes, dos espíritos.

     O emprego da LINGUAGEM CULTA FORMAL deve ser visto como algo muito es-tra-té-gi-co em muitos tipos de texto. Com tal emprego, afirmamos nossa autoridade (= "Eu sei escrever. Eu domino a língua! Eu sou culto!") e com isso reforçamos, damos maior credibilidade ao nosso texto. Imagine, estão, um advogado escrevendo mal ... ("Ele não sabe nem escrever! Seus conhecimentos jurídicos também devem ser precários!").

     Em outros contextos, o emprego da LINGUAGEM FORMAL e até mesmo POPULAR poderá ser estratégico, pois, com isso, consegue-se mais facilmente atingir o ouvinte/leitor de classes menos favorecidas.

     O TÍTULO ou o INÍCIO do texto (escrito/falado) devem ser utilizados como estratégias ... como estratégia para captar a atenção do ouvinte/leitor imediatamente. De nada valem nossos argumentos se não são ouvidos/lidos.

     A utilização de vários argumentos, sua disposição ao longo do texto, o ataque às fontes adversárias, as antecipações ou prolepses (quando o escritor/orador prevê a argumentação do adversário e responde-a), a qualificação das fontes, a utilização da ironia, da linguagem agressiva, da repetição, das perguntas retóricas, das exclamações, etc. são alguns outros exemplos de estratégias.

2. A estrutura de um texto argumentativo

2.1 A argumentação formal


     A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna".

     O autor, na mencionada obra, apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de argumentação formal:
  1. Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.
  2. Análise da proposição ou tese: definição do sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos.
  3. Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, etc.
  4. Conclusão.

     Observe o texto a seguir, que contém os elementos referidos do plano-padrão da argumentação formal.

Gramática e desempenho Lingüístico

  1. Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo intencional da gramática não traz benefícios significativos para o desempenho lingüístico dos utentes de uma língua.

  2. Por "estudo intencional da gramática" entende-se o estudo de definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises (fonológica, morfológica, sintática); a memorização de regras (de concordância, regência e colocação) - para citar algumas áreas. O "desempenho lingüístico", por outro lado, é expressão técnica definida como sendo o processo de atualização da competência na produção e interpretação de enunciados; dito de maneira mais simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições reais de comunicação.

  3. A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem antiga; na verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as primeiras gramáticas. Definida como "arte", "arte de escrever", percebe-se que subjaz à definição a idéia da sua importância para a prática da língua. São da mesma época também as primeiras críticas, como se pode ler em Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc.II ª C.:

    "Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, estúpidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que mergulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o diabo, percevejos que devorais os versos belos".

  4. Na atualidade, é grande o número de educadores, filólogos e lingüistas de reconhecido saber que negam a relação entre o estudo intencional da gramática e a melhora do desempenho lingüístico do usuário. Entre esses especialistas, deve-se mencionar o nome do Prof. Celso Pedro Luft com sus obra "Língua e liberdade: por uma nova concepção de língua materna e seu ensino" (L&PM, 1995). Com efeito, o velho pesquisar apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação lingüística, reúne numa mesma obra convincente fundamentação para seu combate veemente contra o ensino da gramática em sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas:

    "Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez abandonem a superstição da teoria gramatical, desistindo de querer ensinar a língua por definições, classificações, análises inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício". (p. 99)

  5. Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, acima referida suponha-se que se deva recuperar lingüisticamente um jovem estudante universitário cujo texto apresente preocupantes problemas de concordância, regência, colocação, ortografia, pontuação, adequação vocabular, coesão, coerência, informatividade, entre outros. E, estimando-lhe melhoras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a estudar: que é fonética? Que é fonologia? Que é fonemas? Morfema? Qual é coletivo de borboleta? O feminino de cupim? Como se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e-Minho? Que é oração subordinada adverbial concessiva reduzida de gerúndio? E decorasse regras de ortografia, fizesse lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares ... e estudasse o plural de compostos, todas regras de concordância, regências ... os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo de todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho do jovem estudante na produção de um texto. A melhora seria, indubitavelmente, pouco significativa; uma pequena melhora, talvez, na gramática da frase, mas o problema de coesão, de coerência, de informatividade - quem sabe os mais graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja porque a gramática tradicional não dá conta dos mecanismos que presidem à construção do texto.

  6. Poder-se-á objetar que o ilustração de há pouco é apenas hipotética e que, por isso, um argumento de pouco valor. Contra argumentar-se-ia dizendo que situação como essa ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° graus é gramaticalista, descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista, prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos vestibulares. Valendo 40 pontos a prova de redação, os escores foram estes no vestibular 1996/1, na PUCRS: nota zero: 10% dos candidatos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou seja, apenas 20% dos candidatos escreveram um texto que pode ser considerado bom.

  7. Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lembrando que são os gramáticos, os lingüistas - como especialistas das línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo a estrutura e o funcionamento dos códigos lingüísticos. Que se esperaria, de fato, se houvesse significativa influência do conhecimento teórico da língua sobre o desempenho? A resposta é óbvia: os gramáticos e os lingüistas seriam sempre os melhores escritores. Como na prática isso realmente não acontece, fica provada uma vez mais a tese que se vem defendendo.

  8. Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse significativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teoricamente - a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em língua portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria gramatical); Machado de Assis, ao folhar uma gramática declarou que nada havia entendido; dificilmente um Luis Fernando Veríssimo saberia o que é um morfema; nem é de se crer que todos os nossos bons escritores seriam aprovados num teste de Português à maneira tradicional (e, no entanto eles são os senhores da língua!).

  9. Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como recuperar lingüisticamente os alunos, como promover um melhor desempenho lingüístico mediante o ensino-estudo da teoria gramatical. O caminho é seguramente outro.


    Gilberto Scarton

     Eis o esquema do texto em seus quatro estágios:
  • Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia claramente a tese a ser defendida.

  • Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se definem as expressões "estudo intencional da gramática" e "desempenho lingüístico", citadas na tese.

  • Terceiro estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oitavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos.

    Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumentação.
    Quarto parágrafo: argumento de autoridade.
    Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração hipotética.
    Sexto parágrafo: argumento com base em dados estatísticos.
    Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos.
  • Quarto estágio: último parágrafo, em que se apresenta a conclusão.

2.2 A argumentação informal

     A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já referida.

     A argumentação informal apresenta os seguintes estágios:
    1. Citação da tese adversária
    2. Argumentos da tese adversária
    3. Introdução da tese a ser defendida
    4. Argumentos da tese a ser defendida
    5. Conclusão
     Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flores Lenz, Promotor de Justiça.

Considerações sobre justiça e eqüidade

  1. Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadêmico nacional, a idéia de que o julgador, ao apreciar os caos concretos que são apresentados perante os tribunais, deve nortear o seu proceder mais por critérios de justiça e eqüidade e menos por razões de estrita legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da real pacificação dos conflitos submetidos à sua apreciação.

  2. Semelhante entendimento tem sido sistematicamente reiterado, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados simplesmente desprezarem ou desconsiderarem determinados preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional.

  3. Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos quais reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos furtamos, todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da generalização desse entendimento.

  4. Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos dos arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal contra os princípios da legalidade e da separação de poderes, esteio no qual se assenta toda e qualquer idéia de democracia ou limitação de atribuições dos órgãos do Estado.

  5. Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o insuperável José Alberto dos Reis, o maior processualista português, ao afirmar que: "O magistrado não pode sobrepor os seus próprios juízos de valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode fazer quando o caso se acha previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o caso é omisso".

  6. Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qualquer espécie de legalidade ou garantia de soberania popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúcida visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa situação, se arvorando, de forma absolutamente espúria, na condição de legislador.

  7. A esta altura, adotando tal entendimento, estaria institucionalizada a insegurança social, sendo que não haveria mais qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor dos humores e amores do juiz de plantão.

  8. De nada adiantariam as eleições, eis que os representantes indicados pelo povo não poderiam se valer de sua maior atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis.

  9. Desapareceriam também os juízes de conveniência e oportunidade política típicos dessas casas legislativas, na medida em que sempre poderiam ser afastados por uma esfera revisora excepcional.

  10. A própria independência do parlamento sucumbiaria integralmente frente à possibilidade de inobservância e desconsideração de suas deliberações.

  11. Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civilização.

  12. Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscalizar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos demais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as atribuições destes, ditando a eles, a todo momento, como proceder.

  13. Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa concepção.

  14. Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem sombra de dúvidas, o desconhecimento do próprio conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio in adjecto.

  15. Isto porque, e como magistralmente o salientou o insuperável Calamandrei, "a justiça que o juiz administra é, no sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no sentido mais apertado, mas menos incerto, da conformidade com o direito constituído, independentemente da correspondente com a justiça social".

  16. Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios concretos de efetivação da Justiça social compete, fundamentalmente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são indicados diretamente pelo povo.

  17. Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, adequando o proceder daqueles aos ditames da Constituição e da Legislação.

Luís Alberto Thompson Flores Lenz

     Eis o esquema do texto em seus cinco estágios;
  • Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese adversária.

  • Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se cita um argumento da tese adversária "... fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional".

  • Terceiro estágio: terceiro parágrafo, em que se introduz a tese a ser defendida.

  • Quarto estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se apresentam os argumentos.

  • Quinto estágio:os últimos dois parágrafos, em que se conclui o texto mediante afirmação que salienta o que ficou dito ao longo da argumentação.

sábado, 12 de maio de 2012

A Metáfora Conceptual

Encontrei na internet um resumo bem legal sobre a metáfora conceptual e gostaria de compartilhar com vocês. É um texto do Leonardo Nazar. Para saber mais, vocês podem acessar o endereço dele (logo abaixo) e ver exemplos e textos que ele disponibilizou para quem quer se aprofundar.


Metáfora Conceptual

Por Leonardo Nazar
Disponível em: http://www.leonardonazar.com/metcon.html

A Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), elaborada por George Lakoff e Mark Johnson, aparece em um momento em que os estudos da linguagem começam a rejeitar, sob influência das descobertas da ciência cognitiva, os modelos formais predominantes até então.

Sendo apresentada no clássico Metaphors We Live By de 1980, a TMC contesta a visão tradicional da metáfora como mera figura de linguagem para trazê-la para o âmbito do pensamento: a metáfora é um mapeamento entre domínios de conhecimento. Ela é parte de nosso sistema conceitual, instanciada neuralmente, baseada, geralmente, em nossas experiências sensório-motoras, emocionais e culturais. O fato de haver expressões linguísticas é apenas secundário, já que “algumas metáforas se manifestam na gramática, outras em gestos, arte ou rituais.” (Lakoff & Johnson, 1999:57).1
Há experiências subjetivas como, por exemplo, AFETIVIDADE, que são percebidas desde a infância a partir de outras experiências mais concretas, como PROXIMIDADE FÍSICA. Essas associações ativam simultaneamente regiões distintas do cérebro que resultam em conexões neurais permanentes nas redes que definem os domínios conceptuais e legitimam expressões como em:

"Éramos muito próximos, mas começamos a nos afastar."

Nesta frase, encontram-se dois termos em negrito que pertencem ao domínio da PROXIMIDADE FÍSICA usados para expressar AFETIVIDADE.

Há diversos estudos (alguns listados nas sugestões do menu à esquerda) que evidenciam a metáfora conceptual em conversas do dia-a-dia, textos literários, música, pintura, gestos, matemática além de sua relação com psicanálise, educação e inteligência artificial.



Leonardo Nazar, 2010.
1 Para uma descrição mais detalhada da formação do pensamento metafórico, o artigo The Neural Theory of Metaphor de George Lakoff em The Cambridge Handbook of Metaphor and Thought é altamente recomendado. 

 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

tema e proposta na redação de vestibular


identificação do tema dos textos e compreendendo a proposta de produção textual dos vestibulares


Organizamos e sintetizamos algumas dicas para você organizar suas leituras e estudos de redação em língua portuguesa.

Identificar o tema da proposta de redação

O que é um tema? O tema é o conteúdo que permeia todo um texto. As propostas de redação geralmente trazem dois temas e duas propostas de redação, que precisam ser identificados pelo candidato quando este faz a leitura dos textos da proposta. Você pode identificar um tema que pode ser geral (mais abrangente) e mais específico (centrado num tópico). A proposta de redação geralmente se concentra neste último tipo de tema.
Exemplos de temas gerais: violência, corrupção, aborto, cotas, copa do mundo, olimpíadas, preconceito, drogas, redes sociais na internet etc.
Temas mais específicos: violência nas cidades do interior, compra de votos e descompromisso do eleitor, aborto de crianças anacéfalas, cotas para estudantes negros nas universidades, benefícios para o Brasil como sede da Copa do Mundo, formação de esportistas no Brasil, casamento entre homossexuais, legalização da maconha.

Aprofundando-se no(s) tema(s)

É necessária muita leitura sobre os temas gerais e específicos. Você é capaz de escrever sobre um assunto que você não tem conhecimento? Então faça buscas na internet, jornais e revistas de possíveis temas para redação. Podem ser assuntos polêmicos, muito "mastigados" pela mídia e de grande repercussão. Também podem abordar questões sociais e mudanças de leis de uma nação ou comportamentos que afetam diretamente as nossas vidas (ou a vida de muitas pessoas que estão ao nosso redor).
Recolha informações na internet sobre os potenciais temas de redação. Faça algumas perguntas para que você busque as informações de que precisa. Que notícias circulam sobre o assunto? Quais as novidades? O que as pessoas comentam nas redes sociais? Fique por dentro para saber a opinião das pessoas, da mídia, dos especialistas. Depois, apresente seu ponto de vista (com o que você concorda) e defenda-o.

Organize suas leituras e ideias


Faça algumas a você mesmo, lendo o texto, perguntas para organizar as informações que você procura ou necessita saber:
Qual a opinião da maioria das pessoas sobre o assunto (senso comum)?
O que circula sobre o assunto nas redes sociais (facebook, orkut, twitter)?
O que a mídia tem veiculado sobre o tema (em notícias, reportagens, artigos de opinião na tv, jornal e internet)?
Qual o meu posicionamento? Em que eu acredito? Por que eu defendo essa posição? Qual(is) o(s) problema(s) que identifiquei nos demais posicionamentos?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Negação metalingüística e pressuposto:

Encontrei esse texto que é bem interessante. Trata da pressuposição sob a perspectiva da Semântica Argumentativa em Ducrot e do problema da negação - ou mais específicamente - do teste de negação que é feito para verficar se as pressuposições persistem ou não. Postei abaixo o resumo e o abstract, mas você pode clicar no link para ter acesso ao texto integral, no site da revista Linguagem em (Dis)curso.
 
Negação metalingüística e pressuposto:

algumas considerações semântico-pragmáticas

    Mariléia Silva dos Reis
Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre a negação metalingüística no quadro das teorias semântico-pragmáticas. Estas reflexões restringem-se a uma tentativa de sistematização de alguns estudos sobre o pressuposto, em relação a sua manutenção ou a seu cancelamento, em proposições cujo conteúdo posto é negado (Ducrot, 1977, 1987; Gazdar, 1979; Levinson, 1983; Horn, 1989; Moura, 1998). Pretende-se também procurar evidências empíricas deste tipo de negação (no Banco de Dados do Projeto VARSUL/UFSC) no sentido de corroborar a hipótese segundo a qual um pressuposto pode ser negado pragmaticamente, a depender das crenças e do conhecimento compartilhado que se tem em relação ao interlocutor de um enunciado.
Abstract: The objetive of this work is to show some thoughts about the metalinguistic denial on the frame of the semantic-pragmatic theories. These thoughts restrict to a attempt of the systematization of the some studies about the maintenance or cancellation of pressupposition whose placed content is denied (Ducrot, 1977, 1987; Gazdar, 1979; Levinson, 1983; Horn, 1989; Moura, 1998). I intend to look for empiric evidences about this sort of denials, at the Varsul/UFSC Project Data Basis, for corroborate the hypothesis according to the pressupposition can be pragmatically denied, depending on the believes and the shared knowledge the locutor has in the relationship to the interlocutor of the statement.
Palavras-chave: Semântica, semântica argumentativa, negação metalingüística.
 
CLIQUE AQUI PARA TER ACESSO AO TEXTO INTEGRAL

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Verbos e expressões que acionam pressuposições

As pressuposições, para a semântica, são informações que emergem a partir da leitura do implícito marcado por acionadores de pressuposição. Essas informações, embora não estejam expressas explicitamente no enunciado, podem ser inferidas a partir do reconhecimento dos acionadores.
Para ter um melhor conhecimento sobre as pressuposições semânticas e reconhecê-las num (con)texto é necessário conhecer que tipos de expressões e verbos podem acioná-las. Tendo conhecimento desse repertório de acionadores, um leitor pode ser capaz de reconhecer várias pressuposições e novos acionadores. Baseando-se em Levinson (1983), Moura (2006) organizou alguns tipos bastante comuns de acionadores de pressuposição que podemos encontrar em textos.

1. DESCRIÇÕES DEFINIDAS
Descrevem um ser/objeto específico. Consistem em expressões que fazem referência a um ser específico e acionam os chamados pressupostos de existência.


No caso da tirinha acima, temos no primeiro e terceiro quadrinho, respectivamente, duas expressões definidas: (1) a lei da selva e (2) a lei da gravidade. A pressuposição está, na verdade, na existência de cada lei. As expressões definidas geralmente são iniciadas por um artigo definido (o, a, os, as).

2. EXPRESSÕES E VERBOS ITERATIVOS
Apontam sempre para a pressuposição de repetição de uma ação.

(1) O Vasco é vice novamente
(2) O Flamengo foi eliminado da Libertadores de novo.
(3) O Cruzeiro retorna à Copa do Brasil  e está de olho no título.

As expressões em destaque são os acionadores. Elas indicam repetição de um fato. Observe as pressuposições:
pp1. O Vasco já tinha sido vice antes.
pp2. O Flamengo já tinha sido eliminado da Libertadores antes.
pp3. O Cruzeiro já esteve na Copa do Brasil antes.

3. EXPRESSÕES TEMPORAIS
Acionadores deste tipo estabelecem uma relação de tempo entre a informação explícita e implícita.

(1) Miquéias está indo mais vezes à praia depois que se mudou para Rio Tinto
pp1. Miquéias se mudou para Rio Tinto.
pp2. Miquéias não ia muito à praia antes de se mudar para Rio Tinto.

(2) Valéria ficou depressiva antes de terminar com o namorado.
pp1. Valéria terminou com o namorado.

4. ESTRUTURAS CLIVADAS
Estruturas sintáticas clivadas, que tem a forma (não) foi X que (oração subordinada), fazem com que a oração subordinada, geralmente a última parte do enunciado, contenha uma informação implícita (pressuposição).

(1) Não foi Marta que se mudou para Rio Tinto ontem.
pp1. Alguém se mudou para Rio Tinto ontem.

5.  VERBOS QUE INDICAM MUDANÇA DE ESTADO
Verbos como deixar, começar, terminar, acabar, ficar, tonar-se, criar etc, podem, dentro de alguns contextos específicos, acionar pressuposições que indiquem mudança de estado ou processo.

(1) Valéria ficou depressiva com o término do namoro
pp1. Valéria não era depressiva.

(2) Pedro tentou e quase deixou de fumar cigarro.
pp2. Pedro fumava antes.


6.  VERBOS FACTIVOS
Representam fatos que são colocados como de conhecimento compartilhado entre o locutor e o interlocutor. São verbos que tendem ao emocional (lamentar, sentir, arrepender-se, enfurecer-se etc),  às percepções (sentir, perceber, descobrir) ou ao epistêmico (compreender, reconhecer, saber). Quando na estrutura de ordem direta (sujeito + verbo + oração subordinada s. objetiva), a pressuposição se situa na subordinação.

(1) Pedro lamentou não ter largado o vício.
pp1. Pedro não largou o vício

(2) João descobriu que Pedro fuma cigarro.
pp2. Pedro fuma cigarro.


7.  VERBOS IMPLICATIVOS
Verbos que indicam uma leitura por implicação. Conseguir é um exemplo clássico de verbo implicativo.
 

Na última fala do Garfield, o verbo conseguir aciona uma pressuposição: "Jon tentou achar as ratoeiras".
(1) O Jon conseguiu achar todas as ratoeiras.
pp1. O Jon tentou achar as ratoeiras.


Existem ainda outros tipos de acionadores e pressuposições que não foram relacionados por Moura. Conforme formos achando, vamos acrescentando nesta postagem. Você, leitor, pode colaborar. Caso tenham publicações sobre novos acionadores, divulgue aqui nos comentários com exemplos. Abaixo as que já acrescentamos. Abrimos também um tópico para discussão sobre a pressuposição e acionadores no nosso fórum (o link no topo da nossa página).
 
8.  EXPRESSÕES QUE QUANTIFICAM E ENUMERAM
Palavras como nova(s), primeira, segunda, terceira, indicando enumeração ou quantidade podem, em alguns contextos, ser considerados acionadores.

(1) Paul McArtney faz o seu primeiro show no Nordeste do Brasil.
pp1. Paul McArtney nunca tinha feito um show no Nordeste.

(2) Houve um segundo atentado contra a embaixada norteamericana no Egito.
pp2. Houve um primeiro atentado contra esta embaixada.


REFERÊNCIAS

LEVINSON, S. Pragmatics. Cambridge: Cambridge Press, 1983.
MOURA, H.M.M. Significação e contexto: uma introdução a questões de semântica e pragmática.  Florianópolis: Insular, 2006. p.17-21.

domingo, 15 de abril de 2012

Os diferentes estilos - P.M.C.

O mestre literato Paulo Mendes Campos mostra na sua crônica  "Os diferentes estilos" que há diferentes formas de relatarmos ou observarmos um mesmo fato. Algumas informações tem destaque, surgem, outras são ocultas, camufladas ou esquecidas. Depende muito do propósito de que está escrevendo. Depende também de quem está lendo. Sim, os perfis de escritor e leitor mudam tudo.

OS DIFERENTES ESTILOS
por Paulo Mendes Campos

“Parodiando Raymond Queneau, que toma um livro inteiro para descrever de todos os modos possíveis um episódio corriqueiro, acontecido em um ônibus de Paris, narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presumiveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construçao, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.

Estilo interjetivo
Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!
Estilo colorido
Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de Freitas, um via de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro.
Estino antimunicipalista
Quando mais um dia de sofrimentos e desmandos nasceu para esta cidade tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar nas frequentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por baixo do pano, a ignominosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado morador desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pululam naquele foco de epidemias. Até quando?
Estilo reacionário
Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tiveram nesta manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbado) um dos bairros mais elegantes desta cidade, como se sabe, já não bastasse para enfeiar aquele local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam ou que nos dão a hora de residir no Rio.
Estilo então
Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então para passeio de madrugada. Encontrou então o cadaver de um homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então as providencias necessarias. Aí então eu resolvi te contar isso.
Estilo áulico
À sobremesa, alguem falou ao Presidente que na manhã de hoje o cadáver de um homem havia sido encontrado na Lagoa Rodrigo de Freitas. O Presidente exigiu imediatamente que um de seus auxiliares telegrafasse em seu nome à familia enlutada. Como lhe informassem que a vítima ainda nao fora identificada, S. Ex., com o seu estimulante bom humor, alegrou os presentes com uma das susas apreciadas blagues.
Estilo schmidtiano
Coisa terrivel é o encontro com um cadaver desconhecido à margem de um lago triste à luz fria da aurora! Trajava-se com alguma humildade mas seus olhos eram azuis, olhos para a festa alegre colorida deste mundo. Era trágico vê-lo morto. Mas ele nao estava ali, ingressara para sempre no reino inviolavel e escuro da morte, este rio um pouco profundo caluniado de morte.
Estilo Complexo de Édipo
Onde estará a mãezinha do homem encontrado morto na Lagoa Rodrigo de Freitas? Ela que o amamentou, ela que o embalou em seus braços carinhosos?
Estilo preciosista
No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua a Estrela-d´Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que vivifica.
Estilo Nelson Rodrigues
Usava gravata cor de bolinhas azuis e morreu!
Estilo sem jeito
Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de Rui e o estro de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimentos são capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever, mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever.
Estilo fofoca
Imagina você, Tutsi, que onte eu fui ao Sacha´s, legalíssimo, e dormi de tarde. Com o tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele plissadinho, como a Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah, menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da Lagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror a gente morta!
Estilo lúdico ou infantil
Na madrugada de hoje por cima, o corpo de um homem por baixo foi encontrado por cima pelo vigia de uma construçao por baixo. A vitima por baixo nao trazia identificaçao por cima. Tinha aparentemente por cima a idade de quarenta anos por baixo.
Estilo concretista
Dead dead man man mexe mexe mexe Mensch Mensch MENSCHEIT
Estilo didático
Podemos encarar a morte do desconhecido encontrado morto à margem da Lagoa em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teologico. Policial:o homem em sociedade; humano: o homem em si mesmo; teologico: o homem em Deus. Policia e homem: fenômeno; alma e Deus: epifenômeno. Muito simples, como os senhores veem.”

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Acarretamento, pressuposição e implicatura

a
Vamos fazer uma breve revisão do que vimos até o momento sobre acarretamento, pressuposição e implicaturas?
O acarretamento ocorre quando temos sentenças que resultam na verdade de outra, ou seja, se há uma sentença A verdadeira, deduzimos então que B também é verdadeira. No acarretamento trata-se de verdades retiradas próprio enunciado. Acarretamentos não resistem a uma negação.
Ex.
A
a1. Marcela comprou bananas, maçãs e mangas na feira
a2. Marcela comprou bananas.
Ou ainda:
a3. Marcela comprou frutas na feira
B
b1. George torce pelo Corinthians de São Paulo.
b2. George torce por um time de futebol brasileiro.
Ou ainda:
b3. George torce por um time de futebol.

C
c1. Hélio comprou o carro de Pedro.
c2. O carro de Pedro foi comprado por Hélio. (equivalência por passividade)
Ou ainda:
c3. Hélio comprou um veículo.
Mas c1 não acarretaria se a sentença fosse:

c4. Hélio comprou um Ecosport.
Por que?
Quando falamos em acarretamento, geralmente tratamos de sentenças A para B, a verdade da primeira é a verdade da oração seguinte. Se dizemos que alguém comprou um carro, tem de ser, necessariamente, um Ecosport? Poderia ser, porém, que a pessoa possa ter optado por outra marca e modelo, como um Fiesta da Ford, ou um Agile da Chevrolet ou ainda um Honda Civic. Mas se as sentenças fossem organizadas da seguinte forma:

D
d1. Hélio comprou um Ecosport.
d2. Hélio comprou um carro.

Isso ocorre porque Ecosport está na categoria de veículos automotivos, então deduzimos, a partir de um conhecimento linguístico e de mundo que todo Ecosport é um carro, mas não é possível pensar que todo carro é um Ecosport.
Outros exemplos:
E
e1. João casou com Maria.
e2. Maria casou com João. (equivalência)
F
f1. O juiz advertiu o atacante com um cartão amarelo.
f2. O juiz mostrou um cartão amarelo para o atacante.
E de não acarretamento:
G
g1. Hélio comprou um carro.
g2. Hélio não comprou um carro. (sentenças contraditórias)
H
h1. O piloto está morto.
h2. O piloto está vivo. (sentenças contraditórias)
I
i1. Felipe Massa é piloto da Ferrari.
i2. Felipe Massa é piloto da Williams. (sentenças contrárias)
J
j1. John Lennon morreu em 1984.
h2. John Lennon morreu em 1980. (sentenças contrárias)
Pressuposição, como já o próprio nome sugere, tem o caráter de pressupor algo que está no enunciado. Possui alguns aspectos do acarretamento (e inclusive algumas, não todas, acarretam). O diferencial da pressuposição é que ela resiste ao teste da negação.
João quebrou o vaso x Foi João quem quebrou o vaso
João não quebrou o vaso x Não foi João quem quebrou o vaso
- Quando negamos a sentença, não há - Mesmo negando o enunciado, percebemos
mais como dizer que existe um vaso quebrado. que ainda existe um vaso quebrado.
- João existe. Existe um vaso em questão - João existe. Existe um vaso em questão
Viu como é simples fazer o teste da pressuposição. Outra maneira de saber se há pressuposição ou não é através dos ativadores de pressupostos (Ver MOURA, Heronides. pp. 17-21)
Já a Implicatura é definida por Heronides como "[...] um tipo de inferência pragmática baseada não no sentido literal das palavras, mas naquilo que o locutor pretendeu transmitir ao interlocutor". (MOURA, Heronides pp.12)
Por exemplo:
Nesse caso, temos no primeiro quadrinho uma ordem expressada pela mãe. Em resposta a ordem da mãe, Mafalda responde que é presidente e que não precisa obedecer ninguém, já que lhe foi expresso um comando. Em contrapartida, a mãe usou de um conhecimento contextual sobre imposições econômicas e poderes de influência sobre um presidente (Banco Mundial, FMI, etc) para convencer a filha, a desobediente Mafalda, a fazer o que lhe foi pedido. O conhecimento que é necessário, para que se entenda qual o humor do quadrinho é contextual. Certamente, se a pessoa que lê não souber o que o FMI e o Banco Mundial podem fazer a um líder de nação (pelo menos o que temos de conhecimento de mundo e o que se pretendeu dizer no quadrinho) não vão entender “qual foi a graça” da tirinha.
A implicatura trata justamente de algo que se pretendia dizer num enunciado, que não é o sentido literal.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MOURA, Heronides. Significação e contexto: uma introdução a questões de semântica e pragmática. Florianópolis: Insular, 1999. pp.11-29.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Os Jardins

Caminhava todos os dias pelos jardins da casa à noite para contemplar a minha natureza. O orvalho, que complementava a beleza de cada flor e folha, era acariciado pelos meus dedos esguios e desajeitados. A natural beleza, no entanto, esconde segredos de amores passados, agora estão eternizados em verdes lembranças.

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