Semântica(s)



O que é Semântica? É possível definir?
Talvez uma das coisas mais difíceis hoje seja definir o que é Semântica. Cada corrente e cada um diz uma coisa ou outra e chama de semântica. O que mais encontramos na internet, por exemplo, é a definição simplísta de "estudo do significado (das palavras)". Talvez essa visão exista por conta da Semântica Lexical, que é bastante trabalhada nos livros didáticos de ensino básico, contudo, é também uma visão limitada e unilateral. Contudo, o problema é ainda maior. Se Semântica é a área da Linguística que estuda o significado, o que é significado então? Ilari e Geraldi (2006) promovem essa discussão e apontam para a necessidade de se observar o significado e a Semântica sob um olhar multifacetado, fragmentado e dinâmico. A Semântica não pode ser definida por apenas uma vertente, já que se observa que existem, na verdade, "semânticas" diferentes, assim como gramáticas. A Semântica, como ciência, não pode ser absolutamente delimitada, assim como o significado. Ilari e Geraldi falam de limites movediços na área e no estudo sobre significação. Isso existe porque as diferentes áreas tem escopos diferentes, conceitos e nomenclaturas diferentes, categorias de análise diferentes - isso porque as vertentes em Semântica veem o significado/a significação com olhares diferentes. Elas inclusive investigam questões e problemas diferentes. Falaremos um pouco sobre isso na próxima seção.

Várias semânticas 
 
 Existem várias correntes de estudos semânticos atualmente, mas três delas têm importantes contribuições e pesquisas. Fazendo uma releitura de Chierchia (2003), Santos e Trindade (2009) falam, resumidamente, dessas três vertentes:

  1. Semântica Formal: considera que a língua é organizada e mobilizada dentro de um sistema. Nesse sistema coeso e finito, é possível organizar um número infinito de enunciados. Um dos conceitos mais caros na abordagem denotacional (SANTOS; TRINDADE, 2009, p. 13) é a referência: consiste na localização de algo/alguém no mundo, ou sendo aquilo de que se afirma algo; é diferente de sentido, que é o critério de identificação da referência (op. cit.). O valor de verdade (critério de julgamento de uma afirmação para considerar verdadeiro ou falso) depende destes conceitos para que se possa dizer se uma sentença é verdadeira ou não. Considerando a afirmação (1) "a rainha da Inglaterra é velha", é necessário verificar a existência da referência para "a rainha da Inglaterra" e, existindo essa referência (e de fato ainda existe), julgar se a informação sobre ela, "é velha", pode ser considerado ou não verdadeiro (que nesse caso é, respeitosamente). O significado, nessa vertente, é o resultado da fusão entre sentido e referência. Um dos grande problemas hoje, para a Semântica Formal, é definir o valor de verdade para expressões que tem sentido mas não tem referência (como personagens fictícios de livros, filmes ou desenhos animados, por exemplo). São semanticistas formais e com publicações na área a Roberta Pires de Oliveira e Gennaro Chierchia.
  2. Semântica Enunciativa ou Argumentativa: Os trabalhos em Semântica Argumentativa se apóiam na Teoria da Argumentação na Língua (TAL), que foi formulada por Ducrot (1987, 1988). Ele observou que a própria língua contém marcas linguísticas que possibilitam a um locutor direcionar o que ele quer que seu interlocutor entenda, ou seja, que podemos revelar nossas intenções e posicionamentos através da língua. Na Semântica Argumentativa temos alguns tópicos que são bastante estudados: a relação e distinção de vozes que se mobilizam nos discursos, chamada de polifonia; a polifonia, em resumo, pode ser de dois tipos: de locutores e de enunciadores (ou pontos de vista, pode-se dizer). As pressuposições, que são informações implícitas marcadas linguisticamente pelos chamados marcadores de pressuposição (ou acionadores) também tem atenção especial desta corrente teórica; os operadores argumentativos também são de extrema importância nos estudos da Semântica Enunciativa. Santos e Trindade (2009, p.50) destacam algumas funções importantes desses operadores e que efeitos eles tem na argumentação. Dependendo do caso, os operadores podem somar, retomar ou se contrapor a argumentos além de também estabelecer comparações entre eles.
  3. Semântica Cognitiva: em edição...


Bibliografia básica


DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.
NASCIMENTO, Erivaldo Pereira do. Jogando com as vozes do outro: argumentação na notícia jornalística. João Pessoa: Editora Universitária, 2009.
NASCIMENTO, Erivaldo Pereira do; ESPÍNDOLA, Lucienne Claudete. Os operadores argumentativos na sala de aula: uma análise do conectivo mas em gramáticas escolares. Revista do Gelne, Ano 5, nº 1 e 2, 2003. pp. 81-86.
SANTOS, Maria Leonor Maia; TRINDADE, Monica. Linguagens: usos e reflexões. Vol. 5. Ana Cristina de Sousa Aldrigue e Evangelina Maria Brito de Faria (orgs.). João Pessoa: Editora da UFPB, 2009. p. 9-70.

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