conheça as tendências de textos argumentativos e a estruturação mais utilizada nos chamados 'textos dissertativos'. Saiba a diferença entre argumento, estratégia e tese nesse texto do site da PUC-RS.
Autor desconhecido, extraído de http://www.pucrs.br/gpt/argumentativo.php
Como Estruturar um Texto Argumentativo
1. O texto argumentativo
COMUNICAR não significa apenas enviar uma mensagem
e fazer com que nosso ouvinte/leitor a receba e a compreenda. Dito de
uma forma melhor, podemos dizer que nós nos valemos da linguagem não
apenas para transmitir idéias, informações. São muito freqüentes as
vezes em que tomamos a palavra para fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite o que estamos expressando (e não apenas compreenda); que creia ou faça o que está sendo dito ou proposto.
Comunicar não é, pois, apenas um fazer saber, mas também um fazer crer, um fazer fazer.
Nesse sentido, a língua não é apenas um instrumento de comunicação; ela
é também um instrumento de ação sobre os espíritos, isto é, uma
estratégia que visa a convencer, a persuadir, a aceitar, a fazer crer, a
mudar de opinião, a levar a uma determinada ação.
Assim sendo, talvez não se caracterizaria em exagero afirmarmos que falar e escrever é argumentar.
TEXTO ARGUMENTATIVO é o texto em que defendemos
uma idéia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os
meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela.
Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.
TESE, ou proposição, é a idéia que defendemos, necessariamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opinião.
A palavra ARGUMENTO tem uma origem curiosa: vem do latim ARGUMENTUM, que tem o tema ARGU , cujo sentido primeiro é "fazer brilhar", "iluminar", a mesma raiz de "argênteo", "argúcia", "arguto".
Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o autor é contra a pena de morte (tese). Porque ... (argumentos).
As ESTRATÉGIAS não se confundem com os ARGUMENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta por quê (o autor defende uma tese tal PORQUE ... - e aí vêm os argumentos).
ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos
(verbais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para
impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais
facilmente, para gerar credibilidade, etc.
Os exemplos a seguir poderão dar melhor idéia acerca do que estamos falando.
A CLAREZA do texto - para citar um primeiro
exemplo - é uma estratégia argumentativa na medida em que, em sendo
claro, o leitor/ouvinte poderá entender, e entendo, poderá concordar com
o que está sendo exposto. Portanto, para conquistar o leitor/ouvinte,
quem fala ou escreve vai procurar por todos os meios ser claro, isto é,
utilizar-se da ESTRATÉGIA da clareza. A CLAREZA não é, pois, um argumento, mas é um meio (estratégia) imprescindível, para obter adesão das mentes, dos espíritos.
O emprego da LINGUAGEM CULTA FORMAL deve ser visto
como algo muito es-tra-té-gi-co em muitos tipos de texto. Com tal
emprego, afirmamos nossa autoridade (= "Eu sei escrever. Eu domino a
língua! Eu sou culto!") e com isso reforçamos, damos maior credibilidade
ao nosso texto. Imagine, estão, um advogado escrevendo mal ... ("Ele
não sabe nem escrever! Seus conhecimentos jurídicos também devem ser
precários!").
Em outros contextos, o emprego da LINGUAGEM FORMAL
e até mesmo POPULAR poderá ser estratégico, pois, com isso, consegue-se
mais facilmente atingir o ouvinte/leitor de classes menos favorecidas.
O TÍTULO ou o INÍCIO do texto
(escrito/falado) devem ser utilizados como estratégias ... como
estratégia para captar a atenção do ouvinte/leitor imediatamente. De
nada valem nossos argumentos se não são ouvidos/lidos.
A utilização de vários argumentos, sua disposição ao longo do
texto, o ataque às fontes adversárias, as antecipações ou prolepses
(quando o escritor/orador prevê a argumentação do adversário e
responde-a), a qualificação das fontes, a utilização da ironia, da
linguagem agressiva, da repetição, das perguntas retóricas, das
exclamações, etc. são alguns outros exemplos de estratégias.
2. A estrutura de um texto argumentativo
2.1 A argumentação formal
A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna".
O autor, na mencionada obra, apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de argumentação formal:
- Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.
- Análise da proposição ou tese: definição do sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos.
- Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, etc.
- Conclusão.
Observe o texto a seguir, que contém os elementos referidos do plano-padrão da argumentação formal.
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Gramática e desempenho Lingüístico
- Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo intencional
da gramática não traz benefícios significativos para o desempenho
lingüístico dos utentes de uma língua.
- Por "estudo intencional da gramática" entende-se o estudo de
definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises
(fonológica, morfológica, sintática); a memorização de regras (de
concordância, regência e colocação) - para citar algumas áreas. O
"desempenho lingüístico", por outro lado, é expressão técnica definida
como sendo o processo de atualização da competência na produção e
interpretação de enunciados; dito de maneira mais simples, é o que se
fala, é o que se escreve em condições reais de comunicação.
- A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem antiga; na
verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as primeiras gramáticas.
Definida como "arte", "arte de escrever", percebe-se que subjaz à
definição a idéia da sua importância para a prática da língua. São da
mesma época também as primeiras críticas, como se pode ler em Apolônio
de Rodes, poeta Alexandrino do séc.II ª C.:
"Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, estúpidas
lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que
mergulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o diabo,
percevejos que devorais os versos belos".
- Na atualidade, é grande o número de educadores, filólogos e
lingüistas de reconhecido saber que negam a relação entre o estudo
intencional da gramática e a melhora do desempenho lingüístico do
usuário. Entre esses especialistas, deve-se mencionar o nome do Prof.
Celso Pedro Luft com sus obra "Língua e liberdade: por uma nova
concepção de língua materna e seu ensino" (L&PM, 1995). Com efeito, o
velho pesquisar apaixonado pelos problemas da língua, teórico de
espírito lúcido e de larga formação lingüística, reúne numa mesma obra
convincente fundamentação para seu combate veemente contra o ensino da
gramática em sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas:
"Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez abandonem a
superstição da teoria gramatical, desistindo de querer ensinar a língua
por definições, classificações, análises inconsistentes e precárias
hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício". (p. 99)
- Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, acima
referida suponha-se que se deva recuperar lingüisticamente um jovem
estudante universitário cujo texto apresente preocupantes problemas de
concordância, regência, colocação, ortografia, pontuação, adequação
vocabular, coesão, coerência, informatividade, entre outros. E,
estimando-lhe melhoras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a
estudar: que é fonética? Que é fonologia? Que é fonemas? Morfema? Qual é
coletivo de borboleta? O feminino de cupim? Como se chama quem nasce na
Província de Entre-Douro-e-Minho? Que é oração subordinada adverbial
concessiva reduzida de gerúndio? E decorasse regras de ortografia,
fizesse lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares ... e
estudasse o plural de compostos, todas regras de concordância,
regências ... os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo
de todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho do jovem
estudante na produção de um texto. A melhora seria, indubitavelmente,
pouco significativa; uma pequena melhora, talvez, na gramática da frase,
mas o problema de coesão, de coerência, de informatividade - quem sabe
os mais graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja porque a
gramática tradicional não dá conta dos mecanismos que presidem à
construção do texto.
- Poder-se-á objetar que o ilustração de há pouco é apenas
hipotética e que, por isso, um argumento de pouco valor. Contra
argumentar-se-ia dizendo que situação como essa ocorre de fato na
prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° graus é gramaticalista,
descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista,
prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos
vestibulares. Valendo 40 pontos a prova de redação, os escores foram
estes no vestibular 1996/1, na PUCRS: nota zero: 10% dos candidatos,
nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou seja, apenas
20% dos candidatos escreveram um texto que pode ser considerado bom.
- Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lembrando que são
os gramáticos, os lingüistas - como especialistas das línguas - as
pessoas que conhecem mais a fundo a estrutura e o funcionamento dos
códigos lingüísticos. Que se esperaria, de fato, se houvesse
significativa influência do conhecimento teórico da língua sobre o
desempenho? A resposta é óbvia: os gramáticos e os lingüistas seriam
sempre os melhores escritores. Como na prática isso realmente não
acontece, fica provada uma vez mais a tese que se vem defendendo.
- Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse
significativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teoricamente -
a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se confirma na
realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em língua
portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria gramatical);
Machado de Assis, ao folhar uma gramática declarou que nada havia
entendido; dificilmente um Luis Fernando Veríssimo saberia o que é um
morfema; nem é de se crer que todos os nossos bons escritores seriam
aprovados num teste de Português à maneira tradicional (e, no entanto
eles são os senhores da língua!).
- Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como recuperar
lingüisticamente os alunos, como promover um melhor desempenho
lingüístico mediante o ensino-estudo da teoria gramatical. O caminho é
seguramente outro.
Gilberto Scarton
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Eis o esquema do texto em seus quatro estágios:
- Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia claramente a tese a ser defendida.
- Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se definem as
expressões "estudo intencional da gramática" e "desempenho lingüístico",
citadas na tese.
- Terceiro estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oitavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos.
Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumentação.
Quarto parágrafo: argumento de autoridade.
Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração hipotética.
Sexto parágrafo: argumento com base em dados estatísticos.
Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos.
- Quarto estágio: último parágrafo, em que se apresenta a conclusão.
2.2 A argumentação informal
A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já referida.
A argumentação informal apresenta os seguintes estágios:
- Citação da tese adversária
- Argumentos da tese adversária
- Introdução da tese a ser defendida
- Argumentos da tese a ser defendida
- Conclusão
Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flores Lenz, Promotor de Justiça.
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Considerações sobre justiça e eqüidade
- Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadêmico
nacional, a idéia de que o julgador, ao apreciar os caos concretos que
são apresentados perante os tribunais, deve nortear o seu proceder mais
por critérios de justiça e eqüidade e menos por razões de estrita
legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da real pacificação
dos conflitos submetidos à sua apreciação.
- Semelhante entendimento tem sido sistematicamente reiterado, na
atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados simplesmente desprezarem
ou desconsiderarem determinados preceitos de lei, fulminando ditos
dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade
nacional.
- Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal aos
insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos quais
reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos furtamos,
todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da generalização
desse entendimento.
- Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos dos arts.
126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal contra os
princípios da legalidade e da separação de poderes, esteio no qual se
assenta toda e qualquer idéia de democracia ou limitação de atribuições
dos órgãos do Estado.
- Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o
insuperável José Alberto dos Reis, o maior processualista português, ao
afirmar que: "O magistrado não pode sobrepor os seus próprios juízos de
valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode fazer quando o caso se
acha previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o caso é
omisso".
- Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qualquer
espécie de legalidade ou garantia de soberania popular proveniente dos
parlamentos, até porque, na lúcida visão desse mesmo processualista, o
juiz estaria, nessa situação, se arvorando, de forma absolutamente
espúria, na condição de legislador.
- A esta altura, adotando tal entendimento, estaria
institucionalizada a insegurança social, sendo que não haveria mais
qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor dos humores e
amores do juiz de plantão.
- De nada adiantariam as eleições, eis que os representantes
indicados pelo povo não poderiam se valer de sua maior atribuição, ou
seja, a prerrogativa de editar as leis.
- Desapareceriam também os juízes de conveniência e oportunidade
política típicos dessas casas legislativas, na medida em que sempre
poderiam ser afastados por uma esfera revisora excepcional.
- A própria independência do parlamento sucumbiaria integralmente
frente à possibilidade de inobservância e desconsideração de suas
deliberações.
- Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civilização.
- Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscalizar a
constitucionalidade e legalidade dos atos dos demais poderes do Estado,
praticamente aniquilaria as atribuições destes, ditando a eles, a todo
momento, como proceder.
- Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa concepção.
- Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem sombra
de dúvidas, o desconhecimento do próprio conceito de justiça, incorrendo
inclusive numa contradictio in adjecto.
- Isto porque, e como magistralmente o salientou o insuperável
Calamandrei, "a justiça que o juiz administra é, no sistema da
legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no sentido mais
apertado, mas menos incerto, da conformidade com o direito constituído,
independentemente da correspondente com a justiça social".
- Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios
concretos de efetivação da Justiça social compete, fundamentalmente, ao
Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são indicados
diretamente pelo povo.
- Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade,
adequando o proceder daqueles aos ditames da Constituição e da
Legislação.
Luís Alberto Thompson Flores Lenz
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Eis o esquema do texto em seus cinco estágios;
- Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese adversária.
- Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se cita um argumento
da tese adversária "... fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de
injustiça ou inadequação à realidade nacional".
- Terceiro estágio: terceiro parágrafo, em que se introduz a tese a ser defendida.
- Quarto estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se apresentam os argumentos.
- Quinto estágio:os últimos dois parágrafos, em que se conclui o
texto mediante afirmação que salienta o que ficou dito ao longo da
argumentação.