quinta-feira, 12 de abril de 2012

Acarretamento, pressuposição e implicatura

a
Vamos fazer uma breve revisão do que vimos até o momento sobre acarretamento, pressuposição e implicaturas?
O acarretamento ocorre quando temos sentenças que resultam na verdade de outra, ou seja, se há uma sentença A verdadeira, deduzimos então que B também é verdadeira. No acarretamento trata-se de verdades retiradas próprio enunciado. Acarretamentos não resistem a uma negação.
Ex.
A
a1. Marcela comprou bananas, maçãs e mangas na feira
a2. Marcela comprou bananas.
Ou ainda:
a3. Marcela comprou frutas na feira
B
b1. George torce pelo Corinthians de São Paulo.
b2. George torce por um time de futebol brasileiro.
Ou ainda:
b3. George torce por um time de futebol.

C
c1. Hélio comprou o carro de Pedro.
c2. O carro de Pedro foi comprado por Hélio. (equivalência por passividade)
Ou ainda:
c3. Hélio comprou um veículo.
Mas c1 não acarretaria se a sentença fosse:

c4. Hélio comprou um Ecosport.
Por que?
Quando falamos em acarretamento, geralmente tratamos de sentenças A para B, a verdade da primeira é a verdade da oração seguinte. Se dizemos que alguém comprou um carro, tem de ser, necessariamente, um Ecosport? Poderia ser, porém, que a pessoa possa ter optado por outra marca e modelo, como um Fiesta da Ford, ou um Agile da Chevrolet ou ainda um Honda Civic. Mas se as sentenças fossem organizadas da seguinte forma:

D
d1. Hélio comprou um Ecosport.
d2. Hélio comprou um carro.

Isso ocorre porque Ecosport está na categoria de veículos automotivos, então deduzimos, a partir de um conhecimento linguístico e de mundo que todo Ecosport é um carro, mas não é possível pensar que todo carro é um Ecosport.
Outros exemplos:
E
e1. João casou com Maria.
e2. Maria casou com João. (equivalência)
F
f1. O juiz advertiu o atacante com um cartão amarelo.
f2. O juiz mostrou um cartão amarelo para o atacante.
E de não acarretamento:
G
g1. Hélio comprou um carro.
g2. Hélio não comprou um carro. (sentenças contraditórias)
H
h1. O piloto está morto.
h2. O piloto está vivo. (sentenças contraditórias)
I
i1. Felipe Massa é piloto da Ferrari.
i2. Felipe Massa é piloto da Williams. (sentenças contrárias)
J
j1. John Lennon morreu em 1984.
h2. John Lennon morreu em 1980. (sentenças contrárias)
Pressuposição, como já o próprio nome sugere, tem o caráter de pressupor algo que está no enunciado. Possui alguns aspectos do acarretamento (e inclusive algumas, não todas, acarretam). O diferencial da pressuposição é que ela resiste ao teste da negação.
João quebrou o vaso x Foi João quem quebrou o vaso
João não quebrou o vaso x Não foi João quem quebrou o vaso
- Quando negamos a sentença, não há - Mesmo negando o enunciado, percebemos
mais como dizer que existe um vaso quebrado. que ainda existe um vaso quebrado.
- João existe. Existe um vaso em questão - João existe. Existe um vaso em questão
Viu como é simples fazer o teste da pressuposição. Outra maneira de saber se há pressuposição ou não é através dos ativadores de pressupostos (Ver MOURA, Heronides. pp. 17-21)
Já a Implicatura é definida por Heronides como "[...] um tipo de inferência pragmática baseada não no sentido literal das palavras, mas naquilo que o locutor pretendeu transmitir ao interlocutor". (MOURA, Heronides pp.12)
Por exemplo:
Nesse caso, temos no primeiro quadrinho uma ordem expressada pela mãe. Em resposta a ordem da mãe, Mafalda responde que é presidente e que não precisa obedecer ninguém, já que lhe foi expresso um comando. Em contrapartida, a mãe usou de um conhecimento contextual sobre imposições econômicas e poderes de influência sobre um presidente (Banco Mundial, FMI, etc) para convencer a filha, a desobediente Mafalda, a fazer o que lhe foi pedido. O conhecimento que é necessário, para que se entenda qual o humor do quadrinho é contextual. Certamente, se a pessoa que lê não souber o que o FMI e o Banco Mundial podem fazer a um líder de nação (pelo menos o que temos de conhecimento de mundo e o que se pretendeu dizer no quadrinho) não vão entender “qual foi a graça” da tirinha.
A implicatura trata justamente de algo que se pretendia dizer num enunciado, que não é o sentido literal.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MOURA, Heronides. Significação e contexto: uma introdução a questões de semântica e pragmática. Florianópolis: Insular, 1999. pp.11-29.

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