quarta-feira, 25 de abril de 2012

Negação metalingüística e pressuposto:

Encontrei esse texto que é bem interessante. Trata da pressuposição sob a perspectiva da Semântica Argumentativa em Ducrot e do problema da negação - ou mais específicamente - do teste de negação que é feito para verficar se as pressuposições persistem ou não. Postei abaixo o resumo e o abstract, mas você pode clicar no link para ter acesso ao texto integral, no site da revista Linguagem em (Dis)curso.
 
Negação metalingüística e pressuposto:

algumas considerações semântico-pragmáticas

    Mariléia Silva dos Reis
Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre a negação metalingüística no quadro das teorias semântico-pragmáticas. Estas reflexões restringem-se a uma tentativa de sistematização de alguns estudos sobre o pressuposto, em relação a sua manutenção ou a seu cancelamento, em proposições cujo conteúdo posto é negado (Ducrot, 1977, 1987; Gazdar, 1979; Levinson, 1983; Horn, 1989; Moura, 1998). Pretende-se também procurar evidências empíricas deste tipo de negação (no Banco de Dados do Projeto VARSUL/UFSC) no sentido de corroborar a hipótese segundo a qual um pressuposto pode ser negado pragmaticamente, a depender das crenças e do conhecimento compartilhado que se tem em relação ao interlocutor de um enunciado.
Abstract: The objetive of this work is to show some thoughts about the metalinguistic denial on the frame of the semantic-pragmatic theories. These thoughts restrict to a attempt of the systematization of the some studies about the maintenance or cancellation of pressupposition whose placed content is denied (Ducrot, 1977, 1987; Gazdar, 1979; Levinson, 1983; Horn, 1989; Moura, 1998). I intend to look for empiric evidences about this sort of denials, at the Varsul/UFSC Project Data Basis, for corroborate the hypothesis according to the pressupposition can be pragmatically denied, depending on the believes and the shared knowledge the locutor has in the relationship to the interlocutor of the statement.
Palavras-chave: Semântica, semântica argumentativa, negação metalingüística.
 
CLIQUE AQUI PARA TER ACESSO AO TEXTO INTEGRAL

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Verbos e expressões que acionam pressuposições

As pressuposições, para a semântica, são informações que emergem a partir da leitura do implícito marcado por acionadores de pressuposição. Essas informações, embora não estejam expressas explicitamente no enunciado, podem ser inferidas a partir do reconhecimento dos acionadores.
Para ter um melhor conhecimento sobre as pressuposições semânticas e reconhecê-las num (con)texto é necessário conhecer que tipos de expressões e verbos podem acioná-las. Tendo conhecimento desse repertório de acionadores, um leitor pode ser capaz de reconhecer várias pressuposições e novos acionadores. Baseando-se em Levinson (1983), Moura (2006) organizou alguns tipos bastante comuns de acionadores de pressuposição que podemos encontrar em textos.

1. DESCRIÇÕES DEFINIDAS
Descrevem um ser/objeto específico. Consistem em expressões que fazem referência a um ser específico e acionam os chamados pressupostos de existência.


No caso da tirinha acima, temos no primeiro e terceiro quadrinho, respectivamente, duas expressões definidas: (1) a lei da selva e (2) a lei da gravidade. A pressuposição está, na verdade, na existência de cada lei. As expressões definidas geralmente são iniciadas por um artigo definido (o, a, os, as).

2. EXPRESSÕES E VERBOS ITERATIVOS
Apontam sempre para a pressuposição de repetição de uma ação.

(1) O Vasco é vice novamente
(2) O Flamengo foi eliminado da Libertadores de novo.
(3) O Cruzeiro retorna à Copa do Brasil  e está de olho no título.

As expressões em destaque são os acionadores. Elas indicam repetição de um fato. Observe as pressuposições:
pp1. O Vasco já tinha sido vice antes.
pp2. O Flamengo já tinha sido eliminado da Libertadores antes.
pp3. O Cruzeiro já esteve na Copa do Brasil antes.

3. EXPRESSÕES TEMPORAIS
Acionadores deste tipo estabelecem uma relação de tempo entre a informação explícita e implícita.

(1) Miquéias está indo mais vezes à praia depois que se mudou para Rio Tinto
pp1. Miquéias se mudou para Rio Tinto.
pp2. Miquéias não ia muito à praia antes de se mudar para Rio Tinto.

(2) Valéria ficou depressiva antes de terminar com o namorado.
pp1. Valéria terminou com o namorado.

4. ESTRUTURAS CLIVADAS
Estruturas sintáticas clivadas, que tem a forma (não) foi X que (oração subordinada), fazem com que a oração subordinada, geralmente a última parte do enunciado, contenha uma informação implícita (pressuposição).

(1) Não foi Marta que se mudou para Rio Tinto ontem.
pp1. Alguém se mudou para Rio Tinto ontem.

5.  VERBOS QUE INDICAM MUDANÇA DE ESTADO
Verbos como deixar, começar, terminar, acabar, ficar, tonar-se, criar etc, podem, dentro de alguns contextos específicos, acionar pressuposições que indiquem mudança de estado ou processo.

(1) Valéria ficou depressiva com o término do namoro
pp1. Valéria não era depressiva.

(2) Pedro tentou e quase deixou de fumar cigarro.
pp2. Pedro fumava antes.


6.  VERBOS FACTIVOS
Representam fatos que são colocados como de conhecimento compartilhado entre o locutor e o interlocutor. São verbos que tendem ao emocional (lamentar, sentir, arrepender-se, enfurecer-se etc),  às percepções (sentir, perceber, descobrir) ou ao epistêmico (compreender, reconhecer, saber). Quando na estrutura de ordem direta (sujeito + verbo + oração subordinada s. objetiva), a pressuposição se situa na subordinação.

(1) Pedro lamentou não ter largado o vício.
pp1. Pedro não largou o vício

(2) João descobriu que Pedro fuma cigarro.
pp2. Pedro fuma cigarro.


7.  VERBOS IMPLICATIVOS
Verbos que indicam uma leitura por implicação. Conseguir é um exemplo clássico de verbo implicativo.
 

Na última fala do Garfield, o verbo conseguir aciona uma pressuposição: "Jon tentou achar as ratoeiras".
(1) O Jon conseguiu achar todas as ratoeiras.
pp1. O Jon tentou achar as ratoeiras.


Existem ainda outros tipos de acionadores e pressuposições que não foram relacionados por Moura. Conforme formos achando, vamos acrescentando nesta postagem. Você, leitor, pode colaborar. Caso tenham publicações sobre novos acionadores, divulgue aqui nos comentários com exemplos. Abaixo as que já acrescentamos. Abrimos também um tópico para discussão sobre a pressuposição e acionadores no nosso fórum (o link no topo da nossa página).
 
8.  EXPRESSÕES QUE QUANTIFICAM E ENUMERAM
Palavras como nova(s), primeira, segunda, terceira, indicando enumeração ou quantidade podem, em alguns contextos, ser considerados acionadores.

(1) Paul McArtney faz o seu primeiro show no Nordeste do Brasil.
pp1. Paul McArtney nunca tinha feito um show no Nordeste.

(2) Houve um segundo atentado contra a embaixada norteamericana no Egito.
pp2. Houve um primeiro atentado contra esta embaixada.


REFERÊNCIAS

LEVINSON, S. Pragmatics. Cambridge: Cambridge Press, 1983.
MOURA, H.M.M. Significação e contexto: uma introdução a questões de semântica e pragmática.  Florianópolis: Insular, 2006. p.17-21.

domingo, 15 de abril de 2012

Os diferentes estilos - P.M.C.

O mestre literato Paulo Mendes Campos mostra na sua crônica  "Os diferentes estilos" que há diferentes formas de relatarmos ou observarmos um mesmo fato. Algumas informações tem destaque, surgem, outras são ocultas, camufladas ou esquecidas. Depende muito do propósito de que está escrevendo. Depende também de quem está lendo. Sim, os perfis de escritor e leitor mudam tudo.

OS DIFERENTES ESTILOS
por Paulo Mendes Campos

“Parodiando Raymond Queneau, que toma um livro inteiro para descrever de todos os modos possíveis um episódio corriqueiro, acontecido em um ônibus de Paris, narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presumiveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construçao, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.

Estilo interjetivo
Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!
Estilo colorido
Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de Freitas, um via de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro.
Estino antimunicipalista
Quando mais um dia de sofrimentos e desmandos nasceu para esta cidade tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar nas frequentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por baixo do pano, a ignominosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado morador desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pululam naquele foco de epidemias. Até quando?
Estilo reacionário
Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tiveram nesta manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbado) um dos bairros mais elegantes desta cidade, como se sabe, já não bastasse para enfeiar aquele local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam ou que nos dão a hora de residir no Rio.
Estilo então
Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então para passeio de madrugada. Encontrou então o cadaver de um homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então as providencias necessarias. Aí então eu resolvi te contar isso.
Estilo áulico
À sobremesa, alguem falou ao Presidente que na manhã de hoje o cadáver de um homem havia sido encontrado na Lagoa Rodrigo de Freitas. O Presidente exigiu imediatamente que um de seus auxiliares telegrafasse em seu nome à familia enlutada. Como lhe informassem que a vítima ainda nao fora identificada, S. Ex., com o seu estimulante bom humor, alegrou os presentes com uma das susas apreciadas blagues.
Estilo schmidtiano
Coisa terrivel é o encontro com um cadaver desconhecido à margem de um lago triste à luz fria da aurora! Trajava-se com alguma humildade mas seus olhos eram azuis, olhos para a festa alegre colorida deste mundo. Era trágico vê-lo morto. Mas ele nao estava ali, ingressara para sempre no reino inviolavel e escuro da morte, este rio um pouco profundo caluniado de morte.
Estilo Complexo de Édipo
Onde estará a mãezinha do homem encontrado morto na Lagoa Rodrigo de Freitas? Ela que o amamentou, ela que o embalou em seus braços carinhosos?
Estilo preciosista
No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua a Estrela-d´Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que vivifica.
Estilo Nelson Rodrigues
Usava gravata cor de bolinhas azuis e morreu!
Estilo sem jeito
Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de Rui e o estro de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimentos são capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever, mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever.
Estilo fofoca
Imagina você, Tutsi, que onte eu fui ao Sacha´s, legalíssimo, e dormi de tarde. Com o tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele plissadinho, como a Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah, menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da Lagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror a gente morta!
Estilo lúdico ou infantil
Na madrugada de hoje por cima, o corpo de um homem por baixo foi encontrado por cima pelo vigia de uma construçao por baixo. A vitima por baixo nao trazia identificaçao por cima. Tinha aparentemente por cima a idade de quarenta anos por baixo.
Estilo concretista
Dead dead man man mexe mexe mexe Mensch Mensch MENSCHEIT
Estilo didático
Podemos encarar a morte do desconhecido encontrado morto à margem da Lagoa em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teologico. Policial:o homem em sociedade; humano: o homem em si mesmo; teologico: o homem em Deus. Policia e homem: fenômeno; alma e Deus: epifenômeno. Muito simples, como os senhores veem.”

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Acarretamento, pressuposição e implicatura

a
Vamos fazer uma breve revisão do que vimos até o momento sobre acarretamento, pressuposição e implicaturas?
O acarretamento ocorre quando temos sentenças que resultam na verdade de outra, ou seja, se há uma sentença A verdadeira, deduzimos então que B também é verdadeira. No acarretamento trata-se de verdades retiradas próprio enunciado. Acarretamentos não resistem a uma negação.
Ex.
A
a1. Marcela comprou bananas, maçãs e mangas na feira
a2. Marcela comprou bananas.
Ou ainda:
a3. Marcela comprou frutas na feira
B
b1. George torce pelo Corinthians de São Paulo.
b2. George torce por um time de futebol brasileiro.
Ou ainda:
b3. George torce por um time de futebol.

C
c1. Hélio comprou o carro de Pedro.
c2. O carro de Pedro foi comprado por Hélio. (equivalência por passividade)
Ou ainda:
c3. Hélio comprou um veículo.
Mas c1 não acarretaria se a sentença fosse:

c4. Hélio comprou um Ecosport.
Por que?
Quando falamos em acarretamento, geralmente tratamos de sentenças A para B, a verdade da primeira é a verdade da oração seguinte. Se dizemos que alguém comprou um carro, tem de ser, necessariamente, um Ecosport? Poderia ser, porém, que a pessoa possa ter optado por outra marca e modelo, como um Fiesta da Ford, ou um Agile da Chevrolet ou ainda um Honda Civic. Mas se as sentenças fossem organizadas da seguinte forma:

D
d1. Hélio comprou um Ecosport.
d2. Hélio comprou um carro.

Isso ocorre porque Ecosport está na categoria de veículos automotivos, então deduzimos, a partir de um conhecimento linguístico e de mundo que todo Ecosport é um carro, mas não é possível pensar que todo carro é um Ecosport.
Outros exemplos:
E
e1. João casou com Maria.
e2. Maria casou com João. (equivalência)
F
f1. O juiz advertiu o atacante com um cartão amarelo.
f2. O juiz mostrou um cartão amarelo para o atacante.
E de não acarretamento:
G
g1. Hélio comprou um carro.
g2. Hélio não comprou um carro. (sentenças contraditórias)
H
h1. O piloto está morto.
h2. O piloto está vivo. (sentenças contraditórias)
I
i1. Felipe Massa é piloto da Ferrari.
i2. Felipe Massa é piloto da Williams. (sentenças contrárias)
J
j1. John Lennon morreu em 1984.
h2. John Lennon morreu em 1980. (sentenças contrárias)
Pressuposição, como já o próprio nome sugere, tem o caráter de pressupor algo que está no enunciado. Possui alguns aspectos do acarretamento (e inclusive algumas, não todas, acarretam). O diferencial da pressuposição é que ela resiste ao teste da negação.
João quebrou o vaso x Foi João quem quebrou o vaso
João não quebrou o vaso x Não foi João quem quebrou o vaso
- Quando negamos a sentença, não há - Mesmo negando o enunciado, percebemos
mais como dizer que existe um vaso quebrado. que ainda existe um vaso quebrado.
- João existe. Existe um vaso em questão - João existe. Existe um vaso em questão
Viu como é simples fazer o teste da pressuposição. Outra maneira de saber se há pressuposição ou não é através dos ativadores de pressupostos (Ver MOURA, Heronides. pp. 17-21)
Já a Implicatura é definida por Heronides como "[...] um tipo de inferência pragmática baseada não no sentido literal das palavras, mas naquilo que o locutor pretendeu transmitir ao interlocutor". (MOURA, Heronides pp.12)
Por exemplo:
Nesse caso, temos no primeiro quadrinho uma ordem expressada pela mãe. Em resposta a ordem da mãe, Mafalda responde que é presidente e que não precisa obedecer ninguém, já que lhe foi expresso um comando. Em contrapartida, a mãe usou de um conhecimento contextual sobre imposições econômicas e poderes de influência sobre um presidente (Banco Mundial, FMI, etc) para convencer a filha, a desobediente Mafalda, a fazer o que lhe foi pedido. O conhecimento que é necessário, para que se entenda qual o humor do quadrinho é contextual. Certamente, se a pessoa que lê não souber o que o FMI e o Banco Mundial podem fazer a um líder de nação (pelo menos o que temos de conhecimento de mundo e o que se pretendeu dizer no quadrinho) não vão entender “qual foi a graça” da tirinha.
A implicatura trata justamente de algo que se pretendia dizer num enunciado, que não é o sentido literal.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MOURA, Heronides. Significação e contexto: uma introdução a questões de semântica e pragmática. Florianópolis: Insular, 1999. pp.11-29.

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